terça-feira, 24 de maio de 2011

A SBPC internacional

Leia a mensagem de José Monserrat Filho, candidato ao Conselho pelo Rio de Janeiro:

Nosso planeta é uma casquinha de noz, atolada entre insanidades e esperanças.

E muita gente, pública e privada, insiste em tratar o contraditório planeta como se fosse de ferro, infinito, normal, responsável e pudesse suportar toda a insensatez humana. Acontece que esse vasto mundão velho de guerra, cada vez mais mundinho, nunca esteve tão a perigo na história da nossa espécie quanto está hoje. A saída, onde está a saída?, berram corações e mentes.

Edgar Morin acaba de lançar um livro, tratando de buscar “a via capaz de salvar a humanidade dos desastres que a ameaçam”. Para mostrar otimismo já de cara, recorre a Patrick Viveret: “A humanidade por si própria é, ao mesmo tempo, seu pior inimigo e sua melhor chance”.

Não é sorte, portanto, nem fé, nem certeza. É apenas chance. Creio que Morin está certo: “A gigantesca crise planetária é a crise da humanidade que não chega a ascender à humanidade”. E o que é pior: “Os bárbaros, inimigos da humanidade, estão hoje em atividade eruptiva”. E eles não são necessariamente fundamentalistas apenas do Oriente Médio. Há fundamentalistas ainda mais poderosos no proclamado Ocidente democrático e/ou na decantada civilização judaico-cristã.

Mesmo assim, ou por isso mesmo, ainda temos chance. É um alívio, sim. Mas vamos ter que ralar muito para aproveitá-la ainda em tempo.

A SBPC, comprometida com a inteligência humana, a ciência e o conhecimento expresso em diferentes culturas, não pode ficar alheia a um momento crucial da vida da Terra com toda essa riqueza de culturas, tradições, avanços e potencialidades que há dentro de sua invejável redoma de solos, subsolos, biodiversidades e atmosfera, aparentemente única no universo.

Há, pois, que pensar grande – política, econômica, científica, cultural e ambientalmente. Nossa condenação é, ao mesmo tempo, nossa salvação.

Não se trata de trocar o Brasil pelo mundo, mas de colocar o Brasil no mundo e o mundo no Brasil, sempre e cada vez mais, e respeitando invariavelmente “o laço indissolúvel entre a unidade e a diversidade humana”, como bem recomenda Morin.

Não é assim que se galga um piso superior de humanidade?

Precisamos nos tornar uma bela e competente coleção de sopros e até de minuanos, se possível, reforçando os ventos das mudanças globais indispensáveis, sobretudo no acesso ao conhecimento pelo mundo inteiro. E pela aplicação da Carta das Nações Unidas que, por exemplo, proíbe o uso da força para resolver qualquer litígio entre os países.

Quantos milhões de vidas as desigualdades, discriminações, injustiças e arbitrariedades já destroçaram em todos os meridianos nos últimos 20 anos, para não ir mais longe?

Podemos e devemos desenvolver ampla política de cooperação regional e global, pacífica e construtiva. Nossa congênere nos EUA, a American Association for the Advancement of Science (AAAS), vem trabalhando com a diplomacia da ciência. Por que não estabelecer uma colaboração SBPC-AAAS neste campo de tolerância, compreensão e equidade?

A SBPC já tem grata experiência nas relações regionais. Nos anos 70, enfrentou a questão nuclear, junto com físicos argentinos. Nos anos 80, antecipou-se aos acordos Brasil-Argentina, aproximando as comunidades científicas dos dois países e ajudando a criação em Buenos Aires da “Ciencia Hoy”, coirmã da nossa “Ciência Hoje”.

Em 2004, começamos os Encontros Regionais “Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS), na área do Mercosul, mais o Chile. Já houve cinco: dois na Argentina, dois no Uruguai e um no Brasil. Todos estimulando a cooperação em pesquisas de interesse comum em pós-graduação, biotecnologias, nanotecnologias, águas subterrâneas, oceanos, geologia, divulgação científica, ciências sociais, atividades espaciais.

Um dos grandes resultados de tais eventos foi a criação do Centro Brasileiro-Argentino de Nanotecnologia, proposta pelo Celso Melo (ex-diretor do CNPq e hoje presidente da Sociedade Brasileira de Física) já no primeiro evento, o de 2004.

O 6º Encontro deve realizar-se na Argentina, no fim do corrente ano. Que assim seja.

Se a experiência foi tão boa, por que não fazer o mesmo na região Norte, promovendo intercâmbios com Bolívia, Venezuela, Peru, Equador, Colômbia, Guianas e até a Guiana francesa?

Por que não participar ativamente do esforço pioneiro da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), estrategicamente sediada em Foz do Iguaçu, e da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), novo instrumento para alavancar a aliança continental?

Por que não apoiar fortemente a moderização do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e seu acordo de cooperação com a Argentina, aberto a todos os países da América Latina?

Por que não apoiar o Programa Latino-Americano de Física, lançado pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), com o prometido amparo do Ministério da Ciência e Tecnologia?

Por que não apoiar a cooperação Sul/Sul em CT&I, em especial com China, Índia, África do Sul e demais países africanos – em particular com os de língua portuguesa. Por que não manter contatos com os pesquisadores e tecnólogos desses países, em nível de comunidade?

Por que não propor e levar adiante programas de cooperação com entidades similares dos EUA, Europa e Ásia, que fomentem e enriqueçam as relações entre nossos países em áreas essenciais para o nosso avanço em CT&I?

Por que não entrar de cabeça na epopeia, já iniciada, da internacionalização da atividade científica e tecnológica do Brasil, conscientes e ativos na defesa dos legítimos interesses do país?

Por que não apoiar com firmeza a entrada no Brasil na Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN) e na Organização Europeia de Pesquisa Astronômica no Hemisfério Austral (ESO), que com certeza mudarão o patamar da ciência feita em nosso país?

Claro, não é fácil implementar tamanha programação. Por isso, precisamos, aqui também, da descentralização. Podemos compor uma grande e competente equipe de relações internacionais, com grupos especializados para atender diferentes regiões do mundo. Uma possibilidade é mobilizar pesquisadores, professores e estudantes dos cursos de Relações Internacionais, Direito e Economia Internacional, que hoje proliferam em todo o país.

Seria uma novíssima frente de trabalho, plena de atualidade, estudos, tensões e práticas sem precedentes, em perfeita sintonia com a intensíssima globalização atual e com as derradeiras oportunidades de transformações neste decisivo século XXI – justo aquele que nos tocou viver.

Vamos perder uma chance dessas?

Com toda essa esperança, subscrevo o manifesto “SBPC em todo o Brasil, por mais ciência, educação e cultura”, ao lado de Luiz Pinguelli Rosa, candidato a Presidente; Dora Ventura e Ennio Candotti, candidatos a Vice-Presidente; Maria Lucia Maciel, Edna Castro, Sergio Bampi e Gustavo Lins Ribeiro, candidatos aos cargos da Secretaria.

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